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Manuel Faria de Castro no seu gabinete de trabalho
Foto de MB
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29 anos a presidir à Associação de Futebol da Horta
Encontrava-me em Lisboa, quando me deparo com esta funesta notícia, na edição de sexta-feira 25 de Setembro, do diário desportivo de dimensão nacional e internacional, A BOLA, sob o título: Faleceu ontem Faria de Castro…
Aos 63 anos, desaparece assim subitamente o Dr. Manuel Faria de Castro, Professor Liceal, cidadão generoso, atento, interventivo, participativo e Presidente da Associação de Futebol da Horta desde 1985. A generalidade dos cidadãos minimamente identificados com o futebol destas ilhas estão consternados, como eu ainda hoje me sinto mas, se não for o caso, ninguém ficou indiferente. A Associação de Futebol da Horta, com todos os percalços de percurso, desde que foi criada pela vontade indómita do Dr. Manuel José da Silva, nos anos vinte do século passado, é um organismo prestigiado e que muito contribuiu para a divulgação e expansão da modalidade desportiva - futebol, primeiro no Faial e depois nas ilhas do Pico também e mais tarde das Flores, ilha esta onde, infelizmente hoje, essa modalidade trilha uma penosa travessia no deserto, a que não foram estranhos investimentos tresloucados e inconsequentes… Ora nesse parâmetro, a presidência de Faria de Castro à frente dos destinos da A. F. da Horta, sempre primou pela qualificação das camadas jovens e pela transparência da gestão, como aposta num futuro sustentado, sendo sem sombra de dúvidas, um dos expoentes da grande relevância que o futebol do Pico e Faial vêm alcançando nas duas últimas décadas, a nível regional e nacional.
Criticado em diversos sectores sempre ávidos da crítica pela crítica fácil, manteve-se, ao longo de 29 anos, como cidadão disponível em missão de voluntariado cívico desempenhada com grande personalidade, o que nos apraz enaltecer e sabendo sempre os caminhos que mais convinham ao futebol destas ilhas. Era respeitado e foi uma referência em várias alturas, quanto à posição que assumia, nas agitadas Assembleias Gerais da F.P.F., quanto ao que dizia respeito à quase desqualificação-menosprezo a que alguns dirigentes queriam votar os clubes das zonas do país mais ultraperiféricas ou do interior beirão e nortenho. Disso muitas vezes fui testemunha do respeito que havia granjeado nessas longínquas paragens do interior do nosso país.
No início da década de noventa, Faria de Castro apostou na descentralização e, nessa altura participei na equipa directiva da Zona Pico da A.F.H. com o Manuel Adelino e o Óscar Gomes. Mais tarde, depois das vicissitudes que este modelo de trabalho foi conseguindo ultrapassar, convidou-me para voltar a encabeçar esse desafio, o que por razões de ausência da ilha por longos períodos, não pude aceitar. Quiseram depois, o que até seria inovador e benéfico, propor uma lista para os órgãos dirigentes da A.F.Horta, quase só com elementos do Pico e, convenhamos hoje, mais de afronta à liderança de Faria de Castro. Não o conseguiram e quase que lhe pediram por favor que continuasse a presidir aos destinos, daquele símbolo da tradição futebolística e desportiva do Faial e do Pico nos últimos anos. Muitas vezes esteve presente em momentos marcantes do futebol da nossa vila, como sejam o dia da inauguração do relvado sintético e na conquista da Taça Açores pelo Vitória F. C. no nosso Campo de Futebol.
É com muita mágoa e profundamente consternado que, nestas notas simples, lhe testemunho a minha profunda gratidão, pelo desempenho e exemplo de cidadania que deixa às próximas gerações. Foi um gesto digno, a não realização de jogos do calendário da A.F. Horta no passado fim de semana… Afinal, Faria de Castro é alguém que já se libertou do funesto esquecimento da Lei da Morte, por mérito próprio, como só acontece aos cidadãos de eleição…
Até sempre Dr. Faria de Castro… com todo o meu respeito e gratidão…
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